Eis que de repente me aprumei sentada na cama com a única intenção de falar do que eu sinto.
Nunca achei piegas falar de amor, escrever de e para o amor. Não acho feio fazer versos, apesar de não os saber fazer bem. E há quem duvide disso.
Mas é que neste momento não me entendo. Não sei o que se passa e nem porque o mundo continua girando, apesar de tudo.
Tenho tanto gostar em mim que nem sei por onde começar.
É como o primeiro pedaço do bolo de aniversário: tem sempre tanta gente com os olhos brilhando ao redor e esperando por ele que você, parado com o prato na mão, não sabe o que fazer com aquilo.
Sim. É difícil escolher. No impulso sou egoísta e, mesmo não gostando do bolo, tenho o ímpeto de que aquele primeiro seja o meu.
Nunca dá certo.
Se tenho um falha, é a de querer, com maestria, dividir.
Divido-me sempre.
Na metade, em 2/3, em 5, em 10, em milhões. E vou distribuindo os sentimentos com todos, inclusive, ou talvez principalmente, com quem não merece.
Quem sabe esse que não merece, seja o que mais precise e talvez isso explique eu não me importar em dividir?
E assim, vou ficando em pedaços, cada vez menores e me desmanchando em migalhas com tudo que sinto.
Me espalhando oras em felicidades profundas, oras em tristezas intensas, saio por ai, às pequenas partes de mim, abastecendo aos que se propuserem, seja lá com que intenção.
Quase nunca me sobra. E às vezes me falta.
Acho que os pedaços em que vou me transformando – e que vão ficando pra trás, me servem pra alguma coisa: se não for para alimentar o outro, ao menos vão marcar o caminho e me levar de volta pra casa.
Lá eu sei que posso me recompor.
Mas o mundo continua a girar.
E eu só queria que parassem com essa rotação nauseante.